(*) A alta política olha para o futuro. Não um futuro abstrato qualquer, mas o tempo determinado onde a realidade será melhor que nossa existência atual. É essa a condição essencial para se fazer um grande debate nas eleições deste ano. E isso é o que o país deseja. O momento propício para discutir sobre que nação queremos ser é quando políticos estão em contato com o povo, trocam esperança, sonhos, pedidos de necessidades mais básicas, cobranças enormes, sugestões para grandes projetos, críticas, afagos e ideias.
Depois de anos com crescimento pífio, o Brasil volta a ostentar índices chineses de desenvolvimento. Não só do ponto de vista das frias estatísticas da economia, mas também da evolução social. Evoluímos ao fazer crescer o bolo com melhor distribuição de renda e riquezas.
A responsabilidade e a noção de que é fundamento básico fazer esse momento perdurar exige tornar o crescimento em algo sustentável. Dias passados recebi delegação da Assembléia Popular da China. Disseram-me que lá crescimento econômico menor do que 10% é catastrófico, afinal há muita desigualdade e milhões deixam de ser incluídos no processo produtivo se a curva estatística do aumento da riqueza não for dessa magnitude.
O Brasil ainda está longe dessa condição. Terá de se preparar antes de poder alcançar esse patamar de crescimento. Há muitos brasileiros a serem incluídos na economia formal e no processo produtivo, maior garantia de estabilidade e evolução social. Mas não se pode arriscar todos os ganhos conquistados nos últimos anos. Por isso, freios foram acionados pela área econômica para conter o consumo e inibir o crédito. Este é mecanismo a ser usado para evitar gerar antigos problemas: inflação e desabastecimento.Está provado que a inflação é um do piores impostos sociais, principalmente quando recai sobre parcela mais carente do povo. Os mais pobres sempre sofrem mais os efeitos da alta de preços. Empresas e ricos investidores conseguem sempre mecanismos para se protegerem. Seja pelo repasse de aumentos ao consumidor, seja por investimentos indexados pelos índices de inflação que a classe média e os mais ricos têm a seu dispor.
Este é, portanto, bom tema para debate: a construção da economia do futuro. Não se discutem os fundamentos da economia, mas importante olhar como se criará infraestrutura para continuar a gerar empregos, e que postos de trabalho serão criados? Como se garantirá base sólida para a evolução social que vem sendo alcançada nos últimos anos? É preciso discutir a necessidade de investir em segmentos que demandam mão de obra qualificada. Vejam os exemplos de falta de engenheiros que hoje o mercado enfrenta em vários segmentos da produção nacional.
Há muitas faculdades abertas, muitos cursos em funcionamento formando advogados, jornalistas, odontólogos, pedagogos etc. Mas não há mercado para os profissionais que se formam porque os cursos estão fora de sintonia com a realidade. Entretanto, faltam profissionais qualificados em mineralogia, engenharia civil, eletromecânica e vários outras atividades laborais. Esse é um ponto para se discutir, para o governo induzir o mercado a se adaptar às reais necessidades do país. O debate deste ano precisa se voltar para o futuro. O Brasil tem urgência em estar pronto para crescer ainda mais.
(*) Michel Temmer: Presidente da Câmara dos Deputados
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