Escrito por Celso Vegro
19-Fev-2009
"Mesmo numa época de loucura como aquela do fim da década de vinte, muitos homens de Wall Street permaneceram completamente lúcidos. Mas também ficaram muito quietos. O senso de responsabilidade da comunidade financeira pela comunidade em geral é bem menor do que se pensa. É quase nulo. Talvez isso lhe seja inerente. Numa comunidade em que a preocupação fundamental é fazer dinheiro, uma das regras necessárias é viver e deixar viver. Falar contra a loucura talvez seja arruinar os que sucumbiram a ela. Portanto, os homens prudentes de Wall Street se mantêm quase sempre calados. Os bobos ficam assim com o campo todo à disposição. Ninguém os censura. Há sempre o receio, sobretudo, de que até uma autocrítica necessária possa ser desculpa para a intervenção do governo. Este é o maior dos horrores".
GALBRAITH, J.K.
Canadense por nascimento, licenciado em ciências agrárias, Galbraith iniciou sua carreira na Universidade de Toronto, primeiramente, dedicando-se aos estudos da Economia Agrícola. Paulatinamente foi se introduzindo em temáticas de maior alcance, vindo a se tornar o economista preferido dos não economistas em parte pela facilidade com que apresentava temas complexos que, sob mãos alheias, tornavam-se áridos e herméticos, apenas remotamente vinculados aos problemas econômicos do cotidiano.
Ao se transferir para a Universidade de Berkeley e mais tarde para a de Harvard, Galbraith desenvolveu vasta obra das quais se destacam: "O Novo Estado Industrial" e a "Era da Incerteza", publicações que se tornaram referências para os debates sobre os rumos da civilização contemporânea.
A visão particularmente cética sobre a sociedade estadunidense permitiu ao autor distanciar-se do discurso dominante e produzir ensaios que se caracterizam pelo brilhantismo e contribuição para a formulação de políticas orientadas para a solução de problemas relevantes.
O livro em destaque possui o mérito de aproximar-se muito mais de um romance histórico do que de um trabalho científico. Nele, Galbraith destaca os principais personagens (os megaespeculadores de então), o posicionamento dos diretores do Federal Reserve e dos bancos estaduais públicos e privados e, ainda, de forma mordaz, as orientações financeiras propagadas por eminentes economistas, especialmente, o professor Irving Fischer.
O que mais impressiona no livro é a capacidade do autor em traduzir a tragicidade dos acontecimentos daquele novembro de 1929 sem se perder de vista uma dimensão essencialmente humana na condução dos fatos. O surto especulativo que se apossou da sociedade estadunidense, em sua opinião, decorria da auto-imagem criada de que a Nação Americana estava irrevogavelmente destinada à prosperidade.
O paralelismo com os tempos atuais é quase que assombroso. Os montantes envolvidos são hoje imensamente maiores do que as perdas ocorridas em 1929, mas os mecanismos e fatores que conduziram ao colapso de então são muitíssimo similares aos que ora atônitos observamos.
Finalizando, cabe aqui o testemunho do próprio autor sobre sua obra: "jamais gostei tanto de escrever um livro, na verdade, é o único do qual me lembro não ter constituído de fato um trabalho e sim um prazer".
Ficha: GALBRAITH, J.K. O Colapso da Bolsa de 1929: anatomia de uma crise. Ed. Expressão e Cultura, 1972. 245p.
Celso Vegro é pesquisador do IEA - Instituto de Economia Agrícola -, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Um comentário:
Boa, fiz uma resenha de O novo Estado industrial
http://academiaeconomica.blogspot.com/2009/02/resenha-de-jkgalbraith.html
Sem dúvida um economista com ideias interessante. Leitura obrigatoria para quem cre em um Estado ditador do desenvolvimento.
Abraços
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