29 janeiro 2008

Um retorno ao passado, para entender o presente

Vou mostrar um texto do blog do josias, que mostra um fato de arrogância, que se instala em alguns políticos, quando sobe na cabeça a vitórias nas urnas para o cargos eletivos. E que fique bem claro ninguem vence sem o povo e sem grupo. Nenhum agente público, num sistema democrático, não é eleito por si mesmo, e arrogância e soberba são igredientes para uma derrota homérica. Pode ser em Itapeva, São Paulo ou no Brasil, no passado, presente e futuro!
O repórter aproveita a lassidão do domingo para convidar os seus 22 leitores a visitar uma página do passado. Embora amarelecida pelo tempo, diz muito sobre a política e os políticos.

São Paulo. 1985. Fernando Henrique Cardoso, ainda no PMDB, concorria à prefeitura de São Paulo. Seu principal contendor era Jânio Quadros, um político que muitos davam por morto.

À medida que a campanha avançava, Jânio esboçava sinais vitais. Embora confiante, FHC aderiu ao voto útil. Pedia aos eleitores de Eduardo Suplicy, à época sem chances de êxito, que trocassem o candidato petista por ele.

A certa altura, Regina Duarte foi convencida a levar a cara ao vídeo (assista lá no alto). Apelou à união dos eleitores, para impedir o retorno “das forças da corrupção e da ditadura.” Em meio a uma risível menção a Hitler a atriz ensinou: “Minha gente, votar no Suplicy agora é eleger o Jânio.”

Dias antes da eleição, certo da vitória, FHC deixara-se fotografar sentado na poltrona de prefeito. Sérgio Motta, coordenador de sua campanha, reservara, com imprudente antecedência, o salão do bufê paulistano Baiúca.

FHC não comemoraria apenas o triunfo municipal. Festejaria o alvorecer de um projeto ao governo de São Paulo. E, dali, à presidência da República. Dez dias antes do pleito, o candidato fora a uma festa do PMDB.

Espremido entre colegas de partido, intelectuais e artistas, FHC subiu no caixote: “Eu venci essa eleição.” Poucos deram atenção à observação solitária de um dos presentes. O velho Ulysses Guimarães conhecia Jânio Quadros. E o temia: “Está muito cedo para comemorar”, resmungara para uma multidão de ouvidos moucos.

No início da tarde de 15 de novembro, os temores de Ulysses soaram despropositados. As pesquisas de boca de urna davam FHC em confortável dianteira. Os risos e os decotes que se acercavam do candidato já o chamavam de "prefeito". A euforia durou até o início da abertura das urnas da Zona Leste de São Paulo.

Rodeado de computadores, Sérgio Motta espantava-se com os dados que o cristal líquido lhe cuspia na face. A Zona Leste, nas pesquisas um reduto de FHC, revelava-se um ninho de urnas janistas. Em timbre sobressaltado, Serjão deu-se por achado: “Acho que nos fodemos.”

À dúvida seguiu-se o desespero. Quando os convidados começaram a chegar para a festa do Baiúca, as urnas já haviam selado a derrota de FHC. O fracasso encontrou, a postos, 3 mil salgadinhos e 11 garçons, treinados para equilibrar, além dos acepipes, as travessas de um espaguete ao sugo que seria servido a 2 mil convidados. A comida exalava um cheiro de vexame.

No dia seguinte, ao digerir a derrota defronte dos repórteres, FHC culpou o petismo e Suplicy. “É uma pena que tenha sido necessário um desastre dessa natureza para que o PT entendesse que uma política de alianças é necessária.”

Ouvido, Lula rebateu: “Ele perdeu porque é prepotente, se aliou a um governador (Franco Montoro) incompetente e procurou a Fiesp antes dos sindicatos. Só quando estava com a corda no pescoço é que veio falar com o PT.”

Nos dias que se seguiram, FHC ruminaria, em privado, os efeitos de sua “prepotência”. Escanteara Orestes Quércia das decisões da campanha. Esnobara o apoio de dois partidos que haviam rastejado aos seus pés: PFL e PTB. Pediaram pouco. O PTB, uma vaga no Tribunal de Contas do Município. O PFL, a secretaria de Esportes na prefeitura de Mário Covas, cuja gestão atravessava o ocaso. Desprezadas, as duas legendas bandearam-se para o lado de Jânio Quadros, o morto-vivo. Muito vivo. Vivíssimo, segundo o diagnóstico das urnas.

A derrota ensinou a FHC que sinceridade e política não combinam. Num debate televisivo, Boris Casoy sapecara-lhe uma pergunta incômoda: “Acredita em Deus?” Hesitara na resposta. E Jânio atravessou o resto da campanha chamando-o de “ateu”. Pior: brandindo um exemplar da Playboy em que FHC admitira ter experimentado maconha –sem tragar, evidentemente— o rival chamava-o de “maconheiro”.

Dali a nove anos, às voltas com sua primeira disputa presidencial, FHC brincaria com Sérgio Motta: “Já sabemos como perder. Vamos ver agora se aprendemos a ganhar.” Ganhou. Dessa vez, sem hesitar nas negociações com aquele mesmo PFL que, em 85, enxergara como a encarnação do Tinhoso.

Em 2008, separado do fiasco por 22 anos, FHC leva o “aprendizado” ao limite do paroxismo. Embrulha num mesmo pacote as disputas municipal, estadual e presidencial. Condiciona o triunfo do amigo José Serra no ainda longínquo ano de 2010 à imediata submissão de Geraldo Alckmin. Roga ao “companheiro” de partido que fuja da cadeira de prefeito já na fase de pré-campanha. Quer que Alckmin ceda a vez a Gilberto Kassab, um legítimo ‘demo’.

Como se vê, são mesmo tortuosos os caminhos da política.

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