Vou transcrever na íntegra...
UMA ELITE DE M****
Insultar nosso país não é uma boa. O que não presta nele, diz o cronista, são as elites acostumadas com o sabor "da bufunfa", herdeiras do escravismo, e que nunca fizeram nada para melhorá-lo.
Lula Miranda*
O jornalista Luis Nassif em seu blog, há alguns meses, creio que em maio, intitulou um dos seus “/posts/” com a forte expressão “/Um país de m/*”. Enfurecido, o sempre cordato, elegante e de um bom senso admirável Nassif, naquele comentário/desabafo, elevava o diapasão um pouco além do recomendável? Daí o incômodo e desconforto causado pelo título do seu “/post/” (e, por conseguinte, dessa crônica). Em essência, seu texto fazia referência à defasagem cambial e apresentava mais uma vez o preocupante diagnóstico/tese de “desindustrializaçã o” da economia do país devido à progressiva queda do dólar diante de um real (sobre)valorizado.
Desnecessário dizer que esse “post” gerou grande polêmica, mais pelo título virulento do que pelos argumentos (ou seja, pelo seu conteúdo). Passei-lhe então um e-mail argumentando que não havia nada de errado com o país, o problema estava nas suas elites. Ponderei que seria mais correto falar-se então em uma “elite de m*” e não num “país de m*”.
O país é muito bom (“de dimensões continentais, onde, em se plantando, tudo dá” – lembram dessa singela expressão?). O chamado “povão” então... Esse é boníssimo, trabalhador, cordato até em demasia. O que azeda a receita é uma pequena parte da população, mais precisamente uma parte dessa tal “elite branca”. Numa tentativa de acalmar e confortar Nassif naquele momento, disse-lhe também que nas duas próximas reuniões do Copom os juros seriam reduzidos em 0,5 ponto percentual e que isso iria, junto com outras medidas, aliviar um pouco o câmbio. Acertei em cheio quanto às reduções da Selic nas duas reuniões do Copom seguintes, agora quanto ao câmbio...
Estava correto também o meu diagnóstico: o problema não é o país, mas suas elites – ou, pelo menos, sendo mais justo e honesto, uma parte dessas elites. Nem toda a elite do país é golpista ou está “cansada”. Os professores seguem dando suas aulas e realizando importantes pesquisas nas universidades e empresas. Tem muito empresário honesto empenhado na boa gestão de seus negócios, gerando com isso mais riqueza e empregos para o país. Os empresários da Anfavea, por exemplo, estão contentíssimos com a produção recorde de veículos. O agronegócio também bate recorde atrás de recorde – o país é um dos maiores exportadores de suco de laranja, grãos, carnes (de gado, frango e suíno), café etc; a balança comercial bate seguidos recordes de superávit. As reservas já ultrapassaram os 160 bilhões de dólares. O emprego formal também bateu todos os recordes nesse primeiro semestre de 2007: saldo de cerca de 1,096 milhão de empregos, com carteira assinada, gerados. Em mais de 85% das negociações, os trabalhadores obtiveram ganhos reais (reajustes acima da inflação).
Decerto que ainda temos muitos problemas para resolver, principalmente uma gigantesca dívida social a ser “paga”, mas esses indivíduos que agora se dizem “cansados” e “indignados” não são exatamente as pessoas mais apropriadas para reclamar – afinal, elas nunca estiveram do lado das lutas dos trabalhadores e são, quando não responsáveis, cúmplices históricos desse estado de coisas que aí está.
Cá para nós: é muita cara-de-pau, isso sim! Portanto, não se pode perder o foco ou o “esquadro” da questão. Quem se diz “cansado” e “indignado” é aquela pequena burguesia e/ou a classe média arrivista e rastaqüera de sempre. Aquela gente, felizmente uma minoria desprezível (desprezível em todos os sentidos), que há séculos vem pilhando esse país – na verdade, os herdeiros da mentalidade perniciosa da monarquia e do escravismo. Gente desprovida do espírito republicano. Os mesmos que desde sempre molham a mão de servidores públicos para obter vantagens nos seus pequenos negócios, sonegam impostos, tomam dinheiro emprestado nos bancos oficiais e não pagam nunca, “socializando” assim os prejuízos causados por seus negócios ruinosos e porcamente planejados – e agora têm a desfaçatez de reclamar da carga tributária e da corrupção!
São indivíduos que recebem mensalmente rendimentos milionários, na casa das centenas de milhares de reais, e estão se lixando para o salário mínimo e miserável dos trabalhadores. São da “turma da bufunfa” – como diz meu colega Paulo Nogueira Batista Jr. É gente, verdade seja dita, da pior espécie. A despeito dessa gente desprezível, seguimos impolutos, sem direito a frivolidade e ao “cansaço”, mas com a legítima e necessária indignação, nessa luta diária pela transformação desse país tão desigual numa grande nação, muito mais justa e igualitária. Muito mais justa e igualitária.
Lula Miranda é economista, cronista e secretário de Formação e Cidadania do Seel (Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de Livros de São Paulo)
Insultar nosso país não é uma boa. O que não presta nele, diz o cronista, são as elites acostumadas com o sabor "da bufunfa", herdeiras do escravismo, e que nunca fizeram nada para melhorá-lo.
Lula Miranda*
O jornalista Luis Nassif em seu blog, há alguns meses, creio que em maio, intitulou um dos seus “/posts/” com a forte expressão “/Um país de m/*”. Enfurecido, o sempre cordato, elegante e de um bom senso admirável Nassif, naquele comentário/desabafo, elevava o diapasão um pouco além do recomendável? Daí o incômodo e desconforto causado pelo título do seu “/post/” (e, por conseguinte, dessa crônica). Em essência, seu texto fazia referência à defasagem cambial e apresentava mais uma vez o preocupante diagnóstico/tese de “desindustrializaçã o” da economia do país devido à progressiva queda do dólar diante de um real (sobre)valorizado.
Desnecessário dizer que esse “post” gerou grande polêmica, mais pelo título virulento do que pelos argumentos (ou seja, pelo seu conteúdo). Passei-lhe então um e-mail argumentando que não havia nada de errado com o país, o problema estava nas suas elites. Ponderei que seria mais correto falar-se então em uma “elite de m*” e não num “país de m*”.
O país é muito bom (“de dimensões continentais, onde, em se plantando, tudo dá” – lembram dessa singela expressão?). O chamado “povão” então... Esse é boníssimo, trabalhador, cordato até em demasia. O que azeda a receita é uma pequena parte da população, mais precisamente uma parte dessa tal “elite branca”. Numa tentativa de acalmar e confortar Nassif naquele momento, disse-lhe também que nas duas próximas reuniões do Copom os juros seriam reduzidos em 0,5 ponto percentual e que isso iria, junto com outras medidas, aliviar um pouco o câmbio. Acertei em cheio quanto às reduções da Selic nas duas reuniões do Copom seguintes, agora quanto ao câmbio...
Estava correto também o meu diagnóstico: o problema não é o país, mas suas elites – ou, pelo menos, sendo mais justo e honesto, uma parte dessas elites. Nem toda a elite do país é golpista ou está “cansada”. Os professores seguem dando suas aulas e realizando importantes pesquisas nas universidades e empresas. Tem muito empresário honesto empenhado na boa gestão de seus negócios, gerando com isso mais riqueza e empregos para o país. Os empresários da Anfavea, por exemplo, estão contentíssimos com a produção recorde de veículos. O agronegócio também bate recorde atrás de recorde – o país é um dos maiores exportadores de suco de laranja, grãos, carnes (de gado, frango e suíno), café etc; a balança comercial bate seguidos recordes de superávit. As reservas já ultrapassaram os 160 bilhões de dólares. O emprego formal também bateu todos os recordes nesse primeiro semestre de 2007: saldo de cerca de 1,096 milhão de empregos, com carteira assinada, gerados. Em mais de 85% das negociações, os trabalhadores obtiveram ganhos reais (reajustes acima da inflação).
Decerto que ainda temos muitos problemas para resolver, principalmente uma gigantesca dívida social a ser “paga”, mas esses indivíduos que agora se dizem “cansados” e “indignados” não são exatamente as pessoas mais apropriadas para reclamar – afinal, elas nunca estiveram do lado das lutas dos trabalhadores e são, quando não responsáveis, cúmplices históricos desse estado de coisas que aí está.
Cá para nós: é muita cara-de-pau, isso sim! Portanto, não se pode perder o foco ou o “esquadro” da questão. Quem se diz “cansado” e “indignado” é aquela pequena burguesia e/ou a classe média arrivista e rastaqüera de sempre. Aquela gente, felizmente uma minoria desprezível (desprezível em todos os sentidos), que há séculos vem pilhando esse país – na verdade, os herdeiros da mentalidade perniciosa da monarquia e do escravismo. Gente desprovida do espírito republicano. Os mesmos que desde sempre molham a mão de servidores públicos para obter vantagens nos seus pequenos negócios, sonegam impostos, tomam dinheiro emprestado nos bancos oficiais e não pagam nunca, “socializando” assim os prejuízos causados por seus negócios ruinosos e porcamente planejados – e agora têm a desfaçatez de reclamar da carga tributária e da corrupção!
São indivíduos que recebem mensalmente rendimentos milionários, na casa das centenas de milhares de reais, e estão se lixando para o salário mínimo e miserável dos trabalhadores. São da “turma da bufunfa” – como diz meu colega Paulo Nogueira Batista Jr. É gente, verdade seja dita, da pior espécie. A despeito dessa gente desprezível, seguimos impolutos, sem direito a frivolidade e ao “cansaço”, mas com a legítima e necessária indignação, nessa luta diária pela transformação desse país tão desigual numa grande nação, muito mais justa e igualitária. Muito mais justa e igualitária.
Lula Miranda é economista, cronista e secretário de Formação e Cidadania do Seel (Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de Livros de São Paulo)
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